"O exercício do amor verdadeiro não pode cansar o coração"
Emmanuel


16 janeiro 2010

Catástrofes naturais e provações coletivas


Após o terrível terremoto que atingiu o Haiti nesta semana, começa a corrida dramática por restabelecer condições mínimas no país para o estabelecimento de postos de socorro e ajuda humanitária. Como um país marcado por conflitos e pela miséria resistirá a mais esse duro golpe em sua vida nacional? E nós brasileiros que, por motivações diversas, mantemos tropas e tentamos coordenar a reestruturação do país? Que ironia misteriosa é essa que ceifa de nosso convívio a Dra. Zilda Arns, tombando em seu bom combate, auxiliando até o último instante de sua vida? Certamente temos muito que ver com esses problemas, e suas origens estão muito além da diplomacia e da política.

Em primeiro lugar, como ‘Coração do Mundo e Pátria do Evangelho’, ninho caloroso em que a palavra do Cristo deverá alçar vôo sobre todos os cantos do globo em sua pureza e simplicidade originais, o Brasil deve guiar-se pela fraternidade e caridade típica do discipulato de Jesus. Além disso, não podemos ignorar que os males que afetam o Haiti de forma tão extremada, também afetam os rincões de nosso país, de modo que somos afeitos a mesma ordem de coisas (corrupção, violência) e sofremos igualmente suas torpes conseqüências (miséria e mais violência). O nosso cuidado com o Haiti reflete tão somente a necessidade de mostrar lá fora o que não fomos capazes de fazer aqui dentro. É como aquela pessoa que aparenta beatitude na vida cotidiana, e reina tirano dentro de casa. Não faz a reforma íntima, e pinta a fachada, fingindo ser o que não é. Mais uma das contradições de nosso país.

Mas nesse momento de crise, e a crise sempre representa o ponto de inflexão de um sistema para se resolver em sua singularidade, lembremos o Evangelho. Pois se o homem constrói, o Evangelho habita. Se o homem destrói, o Evangelho repara. E se a vida parece injusta, o Evangelho consola e esclarece. Em ‘O Livro dos Espíritos’, capítulo VI, ‘Da Lei da Destuição’, encontramos, dentre muitas, as seguintes perguntas de Kardec aos Benfeitores:


728. É lei da Natureza a destruição?

“Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos”

737. Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores? 

“Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas sibversões, porém, são frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos”


Vemos nessa explanação dos Espíritos o fim providencial desse tipo de desastre. Às conseqüências devastadoras num primeiro momento, seguem-se a reconstrução, a renovação de princípios e o surgimento de novos sentimentos para rorganizar o país sob alicerces novos, em todos os sentidos. Que dizer dos japoneses, assolados por 2 devastadoras bombas atômicas, que se reergueram, com base na disciplina e no respeito aos mais velhos, valorizando conhecimentos e experiência, construindo a potência que conhecemos hoje? Um exemplo perfeito daquilo de que nos falam os Espíritos. Se não formos capazes de compreender a pluralidade das existências, nada conseguiremos avançar na compreensão desses fenômenos tão complexos de destruição e extermínio. Fica a imagem que choca, esquece-se a mensagem que edifica. Uma foto por si só representa o quadro, mas seu conteúdo eleva o padrão humano de entendimento a outro nível simbólico; não podemos esquecer das histórias humanas e seus dramas, antigos na vida daquelas pessoas daquele país, assenhorados agora por novo e fatídico capítulo em que a desencarnação violenta vem a prover novos ajustes para com os compromissos individuais e coletivos.

Outro ponto que não devemos perder de vista é a natureza de nosso mundo. Ainda na classe de provas e expiações, pela maioria de Espíritos imperfeitos que o habitamos, nosso orbe sofre o efeito de toda nossa esfera psíquica inferior, sofrendo abalos dos mais diversos. E com tantos Espíritos ignorantes, e muitos propriamente maus, não é de se estranhar que de tempos em tempos algo ocorra para influir sobre mudanças de comportamento. Foi assim com a AIDS. E será assim sempre que precisarmos dos grilhões da dor para nos ensinar a refrear os excessos e a ponderar nossas atitudes.

Realmente, as imagens dessa semana nos chocaram, pegando-nos de surpresa. Fica agora nossa vigília por tantos espíritos em trânsito para a vida maior. E a certeza que Deus olha por eles, amoroso como sempre, com suas legiões confortadoras de Amigos para os guiarem a um novo plano de entendimento e de vida. Aos que ficamos, resta a oportunidade de sermos mais humanos, sensibilizados e mobilizados ao esforço de ajudar aos necessitados, fazendo a necessária revisão de valores e sentimentos cultivados em nosso campo mental para nossa elevação espiritual.

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