"O exercício do amor verdadeiro não pode cansar o coração"
Emmanuel


26 agosto 2010

Homossexualidade

Um tema sempre espinhoso, em qualquer tipo de diálogo que mantenhamos é a homossexualidade. E é um tema difícil justamente pela enorme quantidade de preconceito, inibições e desinformação de nossa parte. Ao pesquisar material iconográfico para esse post encontrei a foto ao lado que embora pareça ponderada e reveladora de uma linha religiosa menos ortodoxa, estava veiculada em site com um sem-número de argumentos para condenar moralmente  os homossexuais, excluindo-os dos Reinos dos Céus... Mas enquanto espíritas, como devemos nos comportar? O que dizem alguns dos maiores expoentes da Doutrina? E qual o papel doutrinário que uma pessoa homossexual pode vir a desempenhar dentro da Casa Espírita?

Em primeiro lugar, é necessário que se diga algo a respeito da formação e vivência da sexualidade humana, ainda que muito resumidamente. Segundo as observações de Freud, todos temos um inconsciente bissexual e passamos nos estágios mais precoces de nossa vida nesse estado, em que as pulsões ora eram dirigidas a mãe, ora ao pai, culminando em seu ápice no Complexo de Édipo e sua resolução, passando então após a haver uma identificação de gênero com relação a genitália, que passa a ser percebida pela criança pela presença do falo - menino - ou sua ausência - menina. É interessante notar que todos já carregamos o gérmen da bissexualidade, que está em perfeita sintonia com os pontos doutrinários a esse respeito.

Nesse sentido, observamos nO Livro dos Espíritos as seguintes questões com respeito as experiências evolutivas do espírito no campo da sexualidade e das experiências advindas de cada papel social:

200. Têm sexos os Espíritos?
"Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos"

201. Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?
"Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres"

202. Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?
"Isso pouca lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja e passar"

Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem encarnasse só saberia o que saberia os homens


Ou seja, o espírito, por não ter sexo, pode vir a ter experiências tanto de um gênero quanto de outro, e isso pouco lhe importa uma vez que o primordial é o aprendizado dessa experiência. Ao longo de sucessivas reencarnações habitando o mesmo gênero na veste carnal, cria-se uma identidade com a qual o espírito passa a identificar-se, apresentando-se sobre esta roupagem. É um dos motivos de ascendência espiritual para alguns homossexuais que, obrigados a estagiar num corpo de gênero diferente de sua identidade, assumem um comportamento homossexual. O espírito Joanna de Ângelis sempre comenta que a personalidade é fruto da estrutura psicológica da presente reencarnação, enquanto que a individualidade é fruto das experiências sucessivas de várias vidas. Temos, assim, uma consideração importante: a bagagem psicológica do espírito é importante, mas é fundamental a vivência na atual reencarnação, pois que através de vários mecanismos do mundo psicológico, atualizam-se tendências e manifestações de material inconsciente diverso, atual ou longínquo na experiência do Espírito que ali está.

Importante ainda é dizer que homossexualidade não é doença. Não existe "cura", e é realmente algo abominável de se dizer. Até os anos 70, entretanto, era o pensamento vigente. Caso encontremos algum confrade mais antigo no grupo que ainda tenha resistência nesse sentido, é preciso esclarecê-lo. Chico Xavier sempre ressaltou o respeito que devemos ter a todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual, e é realmente uma aula de tolerância, respeito, humildade e que mostra a envergadura espiritual do médium Xavier.


Algumas pessoas, inclusive, tolhem homossexuais das atividades do grupo espírita, como atividades de evangelização ou passes. Não existe nenhum motivo para esse comportamento. O que conta é a moral e o desejo de servir no Bem. Precisamos ajudar a desconstruir o conceito de que a homossexualidade é um desvio de pessoas moralmente fracas e que não podem, por exemplo, dar passes. É um resquício de nosso passado inquisitorial que devemos lutar por superar - como vários outros vícios e preconceitos que trazemos para dentros de nossos Grupos e que nada tem a ver com a essência da Doutrina e prestam um verdadeiro desserviço a ela... Para os mais interessados, recomendo o filme "Prayers for Bobby", que mostra até que ponto a intolerância religiosa pode chegar e seus desdobramentos mais cruéis - excelente drama com Sigourney Weaver.

E mais: devemos ter esses diálogos sobre sexualidade sem constrangimentos dentro de nossos círculos. Como diz Raul Teixeira, "porque temos de ter vergonha de conversar sobre algo que Deus não teve vergonha de criar?". Devemos ter sempre o maior respeito por todos, pelas experiências pelos quais passem e buscarmos aprender também algo com o nosso próximo. A Doutrina Espírita nos esclarece e orienta nesse sentido de forma muito clara e contundente.

Estejamos abertos a praticar com maior inteireza esses princípios.

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