Mistificação ou revelação? O que realmente está por trás da polêmica sobre a possível reencarnação de Alan Kardec como Chico Xavier?
No dia 30 de junho de 2002, em que o Brasil comemorava o pentacampeonato de futebol, com a mesma discrição que viveu, Chico Xavier aproveitava o ensejo para deixar o corpo. Muito se tem falado desde então sobre ele ser a possível reencarnação de Allan Kardec. O livro “Na próxima dimensão”, do Espírito Inácio Ferreira, pelo médium Carlos Baccelli, lançado cerca de seis meses após a passagem de Chico revelaria entre outras coisas a verdadeira identidade espiritual do médium de Pedro Leopoldo como sendo a reencarnação do Codificador. O livro descreve inclusive o que se deu no funeral de Chico no plano espiritual. Mas o que isso tem realmente de importante? Chico precisaria de mais essa láurea? O que importa de fato não é a mensagem e não o nome? Porque então polemizar sobre esse tema?
Vários espíritas de renome sustentam essa hipótese reencarnatória de forma veemente. Entre eles o próprio Baccelli, que teria recebido um livro do próprio espírito do Chico, e Marlene Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita Brasileira. Não que isso seja ruim. Mas um movimento já tão cheio de problemas de direção não precisa de mais uma contenda fratricida entre adeptos deste ou daquele ponto de vista particular, uma vez que se cria uma celeuma em que falatórios e omissões sobre o tema ocorrem de todas as partes. Eu, pessoalmente, não acho impossível Chico ter sido Kardec. Ao contrário, vejo até com alguma naturalidade. O próprio Kardec, em ‘Obras Póstumas’ descreve no item ‘Minha volta’, na Parte Segunda a respeito de sua próxima reencarnação, ao que o Espírito Verdade responde: ‘Não permanecerás longo tempo entre nós. Terás que volver à Terra para concluir a tua missão, que não podes terminar nesta existência. Se fosse possível, absolutamente não sairias daí; mas, é preciso que se cumpra a lei da Natureza. Ausentar-te-ás por alguns anos e, quando voltares, será em condições que te permitam trabalhar desde cedo (...)”. Na nota de Kardec a que se segue dessa resposta encontramos: “Calculando aproximadamente a duração dos trabalhos que ainda tenho de fazer e levando em conta o tempo da minha ausência e os anos da infância e da juventude, até à idade em que um homem pode desempenhar no mundo um papel, a minha volta deverá ser forçosamente no fim deste século ou no princípio do outro”(fim do século XIX ou início do século XX). Ou seja, pelas informações passadas pelo próprio Kardec, ele já teria voltado. As datas, o compromisso com o trabalho desde cedo e a continuidade ao trabalho da Codificação aponta para Chico como sendo Allan Kardec redivivo. As diferenças de personalidade que alguns apontam como pontos contrários a esta tese não se sustentam, ambos eram austeros quando necessários, e expunham a Doutrina com clareza e com erudição. Como fruto do meio, o homem não pode ser o mesmo em meios diferentes, ainda que seu espírito sobrepuje a matéria frágil que lhe dê forma mas se manifeste diferentemente.
A questão é que não recebemos confirmação nenhuma dessas informações por médiuns diferentes e nem mesmo do paradeiro de Chico no mundo espiritual. E qualquer defesa ou atestado de exclusividade do contato com Chico falaria contra o caráter geral de toda informação, que deve passar pelo crivo da razão e ser sancionada por médiuns diferentes em diferentes partes. Não estou julgando médium algum, mas na tentativa de nos mantermos livres de aceitar uma mentira, é melhor sermos precavidos contra informações extravagantes. Existe também a história de um código que Chico teria deixado a três pessoas – ao filho adotivo, a um médico e a uma amiga – que confirmaria mensagens enviadas por ele.
O próprio Congresso Espírita Brasileiro a ser realizado em Brasília no ano que vem, organizado pela FEB, e que tem como tema o centenário de Chico Xavier, tem uma de suas mesas sobre a privacidade espiritual de Chico. Fico pensando se não haverá nenhuma pressão sobre os médiuns para receberem alguma mensagem do Chico no Congresso... Aliás, a última manifestação de Kardec, na sede da FEB, foi em 1904, seis anos antes do nascimento de Xavier. Desde então não se houve mais notícias de manifestações do mestre lionês.
Pra mim, o que fica de toda essa história é a necessidade de sermos pacientes e analisarmos as coisas com parcimônia. Não podemos ser crédulos ou ingênuos a ponto de aceitar qualquer suposta verdade. O trabalho e a mensagem de Kardec e Chico são realmente superponíveis, do maior valor doutrinário que dispomos e do qual devemos zelar incondicionalmente. A seu tempo as informações chegarão a nós e poderemos ajuizar melhor o belo e misterioso desígnio de Deus para esses – ou esse – espírito. Aliás, o próprio Chico já havia confirmado em várias entrevistas que ele e Emmanuel tinham um compromisso de três séculos com o Espiritismo.
Não estaremos desamparados, graças a Deus...
Bibliografia
1. Obras Póstumas. Allan Kardec. Editora FEB
2. Na próxima dimensão. Inácio Ferreira (Espírito), psicografado por Carlos Baccelli. Editora Didier
3. Encontros no tempo. Chico Xavier/ Emmanuel. Coletânea de entrevistas e reportagens com Chico Xavier. Editora IDE
No dia 30 de junho de 2002, em que o Brasil comemorava o pentacampeonato de futebol, com a mesma discrição que viveu, Chico Xavier aproveitava o ensejo para deixar o corpo. Muito se tem falado desde então sobre ele ser a possível reencarnação de Allan Kardec. O livro “Na próxima dimensão”, do Espírito Inácio Ferreira, pelo médium Carlos Baccelli, lançado cerca de seis meses após a passagem de Chico revelaria entre outras coisas a verdadeira identidade espiritual do médium de Pedro Leopoldo como sendo a reencarnação do Codificador. O livro descreve inclusive o que se deu no funeral de Chico no plano espiritual. Mas o que isso tem realmente de importante? Chico precisaria de mais essa láurea? O que importa de fato não é a mensagem e não o nome? Porque então polemizar sobre esse tema?
Vários espíritas de renome sustentam essa hipótese reencarnatória de forma veemente. Entre eles o próprio Baccelli, que teria recebido um livro do próprio espírito do Chico, e Marlene Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita Brasileira. Não que isso seja ruim. Mas um movimento já tão cheio de problemas de direção não precisa de mais uma contenda fratricida entre adeptos deste ou daquele ponto de vista particular, uma vez que se cria uma celeuma em que falatórios e omissões sobre o tema ocorrem de todas as partes. Eu, pessoalmente, não acho impossível Chico ter sido Kardec. Ao contrário, vejo até com alguma naturalidade. O próprio Kardec, em ‘Obras Póstumas’ descreve no item ‘Minha volta’, na Parte Segunda a respeito de sua próxima reencarnação, ao que o Espírito Verdade responde: ‘Não permanecerás longo tempo entre nós. Terás que volver à Terra para concluir a tua missão, que não podes terminar nesta existência. Se fosse possível, absolutamente não sairias daí; mas, é preciso que se cumpra a lei da Natureza. Ausentar-te-ás por alguns anos e, quando voltares, será em condições que te permitam trabalhar desde cedo (...)”. Na nota de Kardec a que se segue dessa resposta encontramos: “Calculando aproximadamente a duração dos trabalhos que ainda tenho de fazer e levando em conta o tempo da minha ausência e os anos da infância e da juventude, até à idade em que um homem pode desempenhar no mundo um papel, a minha volta deverá ser forçosamente no fim deste século ou no princípio do outro”(fim do século XIX ou início do século XX). Ou seja, pelas informações passadas pelo próprio Kardec, ele já teria voltado. As datas, o compromisso com o trabalho desde cedo e a continuidade ao trabalho da Codificação aponta para Chico como sendo Allan Kardec redivivo. As diferenças de personalidade que alguns apontam como pontos contrários a esta tese não se sustentam, ambos eram austeros quando necessários, e expunham a Doutrina com clareza e com erudição. Como fruto do meio, o homem não pode ser o mesmo em meios diferentes, ainda que seu espírito sobrepuje a matéria frágil que lhe dê forma mas se manifeste diferentemente.
A questão é que não recebemos confirmação nenhuma dessas informações por médiuns diferentes e nem mesmo do paradeiro de Chico no mundo espiritual. E qualquer defesa ou atestado de exclusividade do contato com Chico falaria contra o caráter geral de toda informação, que deve passar pelo crivo da razão e ser sancionada por médiuns diferentes em diferentes partes. Não estou julgando médium algum, mas na tentativa de nos mantermos livres de aceitar uma mentira, é melhor sermos precavidos contra informações extravagantes. Existe também a história de um código que Chico teria deixado a três pessoas – ao filho adotivo, a um médico e a uma amiga – que confirmaria mensagens enviadas por ele.
O próprio Congresso Espírita Brasileiro a ser realizado em Brasília no ano que vem, organizado pela FEB, e que tem como tema o centenário de Chico Xavier, tem uma de suas mesas sobre a privacidade espiritual de Chico. Fico pensando se não haverá nenhuma pressão sobre os médiuns para receberem alguma mensagem do Chico no Congresso... Aliás, a última manifestação de Kardec, na sede da FEB, foi em 1904, seis anos antes do nascimento de Xavier. Desde então não se houve mais notícias de manifestações do mestre lionês.
Pra mim, o que fica de toda essa história é a necessidade de sermos pacientes e analisarmos as coisas com parcimônia. Não podemos ser crédulos ou ingênuos a ponto de aceitar qualquer suposta verdade. O trabalho e a mensagem de Kardec e Chico são realmente superponíveis, do maior valor doutrinário que dispomos e do qual devemos zelar incondicionalmente. A seu tempo as informações chegarão a nós e poderemos ajuizar melhor o belo e misterioso desígnio de Deus para esses – ou esse – espírito. Aliás, o próprio Chico já havia confirmado em várias entrevistas que ele e Emmanuel tinham um compromisso de três séculos com o Espiritismo.
Não estaremos desamparados, graças a Deus...
Bibliografia
1. Obras Póstumas. Allan Kardec. Editora FEB
2. Na próxima dimensão. Inácio Ferreira (Espírito), psicografado por Carlos Baccelli. Editora Didier
3. Encontros no tempo. Chico Xavier/ Emmanuel. Coletânea de entrevistas e reportagens com Chico Xavier. Editora IDE
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