Sempre que pensamos em buscar respostas para questionamentos
existenciais geralmente partimos de algumas perguntas como: de onde eu vim?
para onde vou? porque estou aqui?
Quem acredita na existência de algo além da matéria, como na
alma, vê em Deus essas respostas, porém se deixarmos de pensar logicamente nas
razões de nossas existência isso passa a ser algo fantástico e não natural.
No entanto, o Espiritismo veio para explicar muita coisa que
antes não podíamos entender, inclusive traz em suas primeiras questões as
respostas sobre Deus. Segundo a Doutrina Espírita, Deus é a inteligência
suprema, a causa primária de tudo, ou seja, ele é a única coisa que existiu,
existe e continuará a existir, portanto Ele é eterno.
Porém a Doutrina também nos ensina que somos obras de Deus e
estamos em processo de evolução, como elucida parte da resposta da Questão 115
de O Livro dos Espíritos:
“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é,
sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os
fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para
aproximá-los de Si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna
felicidade.”
Dessa forma, vemos que embora haja uma grande ligação com o Criador também há uma grande diferença entre Deus e nós quando falamos em essência. Enquanto Ele é eterno, nós somos imortais, ou seja, tivemos um começo e teremos um fim (perfeição). Vale ressaltar que o fim aqui não tem conotação de extinção, mas sim de alcançar um objetivo.
No entanto isso só resolve parte das nossas perguntas,
porque se somos criações de Deus em diversos estágios evolutivos, e sabendo que
Ele é toda bondade não privilegiando ninguém, então quando tudo isso começou? E
além: fomos criados todos juntos?
Correlação
Para responder isso é necessário compreender como vemos o
mundo. Nós vivemos numa realidade em que tudo é dividido de acordo com
marcações de tempo e espaço. Para determinar que horas são usamos o dia e
noite, e dividimos esses dois fenômenos em frações de tempo (no caso falamos em
horas) e com isso falamos se é muito cedo ou tarde de acordo com essa
convenção.
Porém essa concepção é baseada num deslocamento. O movimento
de rotação que a Terra faz em torno do seu próprio eixo é que deixa um lado do
planeta iluminado pelo Sol (dia) e o outro não (noite), portanto para
determinar o tempo é necessário que haja uma relação com o espaço, o lugar.
Simplificando: se a Terra ficasse parada não haveria a
alternância entre dia e noite, e com isso não conseguiríamos formular um padrão para marcação
de tempo. Outro exemplo é que todos os eventos de nossa realidade estão
baseados em lugar e horário, não importa o que seja, sem esses dois componentes
não há como identificar ação. Nós só existimos porque estamos vivendo em
determinado período de tempo e em algum lugar.
Portanto, apercebemos algo somente quando ocorrem esses dois
eventos simultâneos, fornecendo os padrões para identificarmos uma realidade.
Então, se não existisse a correlação espaço-tempo não seríamos capazes de
formular um mundo.
Aqui pedimos desculpa àqueles mais entendidos do assunto
espaço-tempo pelo exemplo singelo, pois a intenção não é discutir conceitos,
mas sim mostrar de uma maneira simplificada como estruturamos alguns aspectos
de nossa realidade.
E embora haja a teoria da relatividade e a física quântica
que nos trazem outros modos de pensar a relação com a realidade, neste texto
ficamos por aqui com esses conceitos também pelo mesmo motivo citado
anteriormente.
Voltando ao exemplo da Terra, dessa forma percebemos que
dividimos os acontecimentos sempre de acordo com o tempo e espaço, na nossa
vida, por exemplo, contamos os anos, falamos sobre locais, usando essas
referências para contar nosso mundo.
Assim também fazemos com a maneira com que vemos Deus. Se
Ele é eterno, não tem começo, meio nem fim, podemos falar que a realidade em
que age a consciência Dele é um pouco diferente do que estamos acostumados a
perceber, segundo o tempo-espaço, pois Ele ‘quebra’ com essa continuidade.
Imagine o que deve ser o pensamento de Deus. Se Ele não tem
início, nem meio, nem fim, ele sempre está agindo. Dessa forma, se tomarmos por
conta que somos seres criados a partir da ação (pensamento de Deus), podemos
concluir que ele sempre está criando, e assim, os espíritos foram criados em
tempos diferentes, de acordo com a nossa descontinuidade espaço-temporal em
relação com Deus que vive numa margem diríamos infinita para nossos padrões de
compreensão.
A formiga
Para exemplificar esse conceito pensemos em um lápis, porém
há uma formiga caminhando por ele. Se girarmos o lápis a formiga vai continuar
andando, e para o referencial dela aquele campo vai ser um universo
praticamente infinito, embora encontre particularidades, e até pense que aquele
mundo seja finito devido a padrões repetidos. Isso acontece porque ela não
entende as reais dimensões daquilo, visto que seu referencial está preso aquele
mundo.
Porém como estamos segurando o lápis temos a consciência
daquele universo e do que o circunda, portanto estamos trabalhando com padrões
desconhecidos por ela, portanto olhamos para aquele lápis como se fôssemos
Deus.
Agora colocamos outra formiga neste lápis, nós sabemos de
onde veio e para onde foi, mas para aquela primeira formiga que já estava no
lápis aquilo foi criado a partir do nada, pois não estava na razão que ele
conhecia dentro daquele universo.
Para ratificar o assunto, aqui está a resposta da pergunta
78 do Livro dos Espíritos (1857) com a explicação de como Deus criou os
espíritos:
78. Os Espíritos tiveram princípio, ou existem, como Deus,
de toda a eternidade?
“Se não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus,
quando, ao invés, são criação Sua e se acham submetidos à Sua vontade. Deus
existe de toda a eternidade, é incontestável. Quanto, porém, ao modo porque nos
criou e em que momento o fez, nada sabemos. Podes dizer que não tivemos
princípio, se quiseres com isso significar que, sendo eterno, Deus há de ter
sempre criado ininterruptamente. Mas, quando e como cada um de nós foi feito,
repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério.”
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