Uma das mais importantes características da Doutrina Espírita é a ausência de dogmas. Isso faz com que a doutrina seja totalmente flexível a questionamentos feitos por seus adeptos, de forma muito direta e natural, sem que haja nenhum tipo de constrangimento ou até mesmo represárias. A definição de dogma é bem clara, pois são "verdades" que são impostas ao seguidores de algum tipo de religião ou crença e essas mesmas "verdades" não podem ser questionadas ou muito menos contestadas. Os dogmas são um artifício fortemente usados principalmente por correntes religiosas, e isso não é de hoje, como uma forma de manter o seu rebanho sob controle. É importante citar aqui que através disso já houve (e ainda há) muito derramar de sangue mundo afora.
Voltando ao Espiritismo, é justamente a ausência de dogmas que nos permite fazer questionamentos, debater abertamente assuntos que nos geram dúvidas e até mesmo contestar algo que julgamos não estar corretos. Particularmente falando, esse ponto é fundamental na doutrina, é através disso que somos livres para aprender mais e mais, através de nossos questionamentos e debates livres de culpa.
Infelizmente o Movimento Espírita hoje se encontra em um grau próximo ao praticado em igrejas cujo o dogma é ainda um pilar, há uma certa "contaminação" dentro do Espiritismo vindo de outras crenças e religiões. Ai mora o perigo, o perigo já constatado de que o Movimento Espírita vai aos poucos inserindo esses dogmas em seus procedimentos. Começam a aparecer dentro do movimento certas regras que não podem em hipótese alguma ser questionada ou contestada, sempre com a desculpa de que essas "regras" são para o bem do próprio adepto e que caso não sejam seguidas pode haver sérias complicações, ou seja, fazem um verdadeiro terror, instalando o medo mesmo. Isso ai é dogma.
Um dos pontos mais fortes dessa situação que eu venho reparando a um bom tempo é justamente a parte tocante a comunicação com o mundo espiritual, que vem sendo, de modo bem velado, diminuida em boa parte das casas espíritas (geralmente controladas por algum tipo de federação).
Assim, o assistido acaba indo até a casa espírita, na grande maioria das vezes, apenas para tomar passes junto com um gole de água fluidificada e em seguida voltar pra casa, como um fiel que vai nas missas de domingo. Claro que isso tem o lado bom, nunca devemos rebaixar a fé de uma pessoa mas, pra mim, há Doutrina Espírita tem muito mais a oferecer do que simplesmente procedimentos de rotina como se fosse uma igreja.
Já vi casos em que proibem a comunicação espiritual por isso ser perigoso, como se o mundo espiritual fosse um mundo proibido, exatamente como as igrejas pintam.
É de suma importancia que a doutrina continue desatada de qualquer dogma, que seus adeptos continuem podendo questionar, podendo contestar e acima de tudo podendo aprender livremente o que os irmãos do lado de lá tem a nos ensinar. Se continuar nesse ritmo, logo estaremos entrando em uma casa espírita para assistir a missa de domingo também, e não é essa a proposta do Espiritismo.