A forma de como as coisas são programadas para acontecer em nossas vidas as vezes impressiona, mesmo com uma bagagem de estudo relacionado a doutrina e seus fundamentos. Apesar de gozar do livre arbítrio, há coisas na vida que simplesmente devem acontecer, pois foram devidamente programadas no outro plano, quando lá estávamos, para que pudessemos, já aqui na Terra, dar continuidade em nosso aprendizado e a conclusão desse programa já é uma vitória imensa, é um sinal de que continuamos nos mantendo firme e fortes em nosso propórito nessa encarnação.
Pra resumir bem, estou a dez anos junto com "minha companheira de batalha", uma pessoa que veio de longe pra me conhecer e ficar comigo, pra ser minha outra metade nos caminhos da vida. Depois de um bom tempo juntos, começamos a pensar em filhos, a constituir uma familia e tudo mais, ou seja, uma coisa natural na vida de um casal. Acontece que ela não engravidava de forma alguma, fazia exames e mais exames e nada, o tão querido filho nunca vinha. Um belo dia, em uma consulta ao ginecologista, eu estava junto, o médico me perguntou se eu já tinha feito meus exames, pois com ela estava tudo ok e não tinha mais o que investigar. Eu respondi que não havia feito exames (a gente nunca acha que o problema é com a gente), e o doutor me intimou a fazer meus exames, começando pelo espermograma.
Lembro bem que no dia que fui buscar meu resultado, já em casa, abri o bendito exame e o resultado dizia AZOOSPERMIA, o que em básica pesquisas (no Google mesmo, logo de cara) foi possivel saber que em meu sêmen não havia um espermatozóide pra contar história, ou seja, era o sinônimo de estéril, o que foi posteriormente confirmado pelo médico.
Vale lembrar que a azoospermia é um diagnóstico que não te coloca na condição de estéril logo de cara, seria necessário outros exames pra saber o motivo de não ter espermatozóides em meu sêmen e que caberia até procedimento cirúrgico pra tentar reverter a situação, pois cada caso é um caso, por isso, cuidado com o termo azoospermia, consulte o médico antes de sair pensando asneira.
Naquele dia fiquei chateado, pois a idéia de quer você não pode gerar um filho próprio não deixa de ser frustrante e, pior ainda, a idéia de que você não pode ter um filho é mais assustadora ainda, pois é natural do ser humano deixar seus conhecimentos pra alguém e saber que um dia vai partir e sua história terminará ali é complicado.
Eu e minha esposa já haviamos conversado algumas vezes sobre adoção e essa idéia sempre esteve em pauta, mas sempre depois de ter o nosso biológico, como que se a prioridade fosse ter um filho de sangue e depois sim adotar um, cometendo assim o primeiro erro de quem começa a pensar em adoção, o erro de pensar que o filho de sangue é mais importante do que o filho do coração. É um erro que tive que engolir a seco quando meu filho, adotivo, chegou. Digo erro para ressaltar o termo em si, mas na realidade é um sentimento até involuntário imposto ao decorrer da vivência em uma sociedade que ainda tem preconceito em ralação a adoçao.
Minha esposa já havia decidido pela adoção mesmo antes de meu exame, por ela tinha dado entrada na papelada bem antes, mas eu sempre ali aguardando algo que hoje sei que não iria acontecer, aguardando ela resolver o "problema" nela e finalmente ela engravidar. No fim, chegamos em comum acordo (também, depois do tapa na cara que o exame me deu, não podia ser diferente) e fomos ao forum dar entrada na adoção.
Foram um ano e meio de espera e ligações (sempre por parte de minha esposa) semanais para o forum para saber como andava a fila, e finalmente no dia 14 de Setembro de 2009 o telefone tocou, eu atendi, e era a assistente social perguntando se a gente gostaria de conhecer um menino de um ano e um mês que estava no abrigo aguardando adoção. E foi nesse mesmo dia que fomos lá, em meio a nervosismo e felicidade, e vimos pela primeira vez o nosso filho.
No dia seguinte sairiamos do forum com um menino nos braços e uma sacolinha de roupas dele na mão, eramos pais, finalmente.
Contar a história completa aqui seria longo demais, o que não é compatível com o propósito do blog, mas posso dizer tranquilamente hoje que tenho uma familia completa e feliz, tenho um filho alegre e muito carismático, que nos proporciona doses de felicidades brutais e que me faz sentir, sem um pingo de diferença de ser biológico ou não, um pai, assim como minha esposa, uma mãe.
Voltando lá em cima no começo do post, impressiona como as coisas são programadas em nossas vidas, pois hoje somos uma familia constituida de mim, de minha esposa que veio de uma cidade distante da minha, me conheceu e por fim viramos pai de uma criança que a principio não possuia vinculo nenhum conosco. Mas o mais importante é que isso tudo é em referencia ao material, pois espiritualmente tenho certeza de que nossas vidas deveriam se cruzar por aqui nessa encarnação e assim o foi.
Um fato curioso é que um casal foi visitar nosso filho no abrigo um dia antes de nós, estavam na frente na fila do forum, mas por algum motivo que só a espiritualidade saberia responder, resolveram não ficar com ele, dando oportunidade pra nós. A assistente no dia disse que era pra ser a gente mesmo, que estava escrito, eu respondi pra ela que sim, que estava escrito e programado.
O próximo passo é um irmãozinho ou uma irmãzinha para o Matheus Eduardo, vamos deixar a espiritualidade trabalhar novamente, eles sempre sabem o que fazem.
Pra quem pensa em adoção, posso dizer tranquilamente que o processo não é difícil e a demora depende de cada forum ou estado dos pretendentes, procure saber no forum de sua cidade os procedimentos, converse com a assistência social para maiores esclarecimentos e sempre faça tudo dentro da lei, pois compensa, e muito, adotar uma criança, pois você estará dando a oportunidade de uma vida digna e cheia de amor para uma alma geralmente vinda do sofrimento, mas que no fim o encontrará.
Importante também é sempre ser honesto com seu filho em relação a adoção, nunca esconder que ele é adotado, começe a conversar com ele sobre o assunto assim que perceber que ele já está em condições de entender a condição dele, pois esconder é pior, no futuro inevitavelmente ele vai acabar sabendo e isso poderá gerar um sentimento de traição, pois nada é mais importante na relação pais e filhos como a confiança mútua e, claro, o amor.
O resto a vida se encarrega de nos ensinar.