É fato observável que durante o período em que estamos
utilizando o corpo formado por matéria orgânica somos dotados de algumas
características que identificam nossa pessoa em particular. São eles: material
genético, sentimentos, emoções, pensamentos e experiências que juntos formam um
ser de complexa constituição.
Outro fato observável é que essa criatura de constituição
complexa não apenas responde aos estímulos externos ou obedece predisposições
genéticas, mas também apresenta um certo grau de liberdade em sua interação com
o meio ambiente e outros seres.
Também podemos notar que essa interação se processa num
nível de comando interno ao corpo, afinal é uma ação ou comando que parte
daquele indivíduo, podendo ser estimulada interna ou externamente, produzindo
uma resposta ao meio.
Nesse processo de comando e estímulo fica perceptível que
deve existir um mecanismo capaz de realizar uma ligação entre ações e reações.
Logo, se existe tal processo, seus elementos são passíveis de serem
investigados devido ao próprio encadeamento.
Assim, é possível demonstrar uma hipótese de causa provável
tendo em vista as reações e o encadeamento entre fatos. Dizemos hipótese de
causa provável porque essa pode ser uma reação de causa anterior.
Pois bem, com esse raciocínio pode-se fazer a seguinte
dedução: partindo de um ponto observado, vamos investigando o seu encadeamento
de reações anteriores e com isso pode-se chegar a causa que originou as reações
que culminaram em determinada situação.
Pensemos agora em nossas interações com o meio e os outros
seres. Algumas dessas interações produzem ações com perceptíveis traços que
traduzem o conjunto de elementos característicos de determinado indivíduo.
Logo, nota-se que existe uma relação de pessoalidade no
processo de encadeamento das ações dos seres, pois se houvesse apenas a cadeia
de comando e estímulos de ordem biológica não haveria a manifestação quanto aos
elementos subjetivos que compõem o ser.
Dessa forma, chegamos ao ponto de que o elemento que
coordena as ações/causas não pode ter origem na matéria orgânica, pois se isso
fosse verdadeiro estaríamos sujeitos apenas às consequências de fatores
biológicos.
E como o ser humano consegue transformar o meio em que vive
por meio de ações que denotam sua pessoalidade é conclusivo que a causa sede da
expressão humana não seja a matéria orgânica, mas sim algo que pertença a outra
realidade, mas que tenha estreita ligação com o conjunto físico.
Dessa forma, concluímos que existe algo que pertence a uma
realidade outra que não se constitui de matéria orgânica, e que esse elemento é
a sede do que chamamos de ser, portanto esse princípio do ser não pode ser
destruído após a morte do veículo de matéria orgânica, já que não pertence a
esse tipo de natureza.
Agora, se pensarmos que esse ser sobrevive após a morte do
organismo físico, necessariamente ele deve conservar suas características
individuais, pois, se se desintegrasse ou dissolvesse em algo maior, ele
perderia sua finitude no sentido de desintegrar as próprias referências que
servem para identificar suas características que personalizam o determinado
ser, e assim haveria por consequência o colapso da consciência e por seguinte o
desaparecimento daquela unidade individual.
A possibilidade do desaparecimento de uma unidade individual
é ilógica, pois se essa hipótese fosse verdadeira não haveria motivo para a
continuação da existência do ser após a morte do corpo orgânico já que ele
passaria a ser apenas uma epifenômeno do mundo e não alguém dotado de
características e vontades próprias que podem ser aferidas pela manifestação,
expressão e modificação do meio orgânico pelo ser.
Logo, concluímos que existe a sobrevivência do ser após a
falência do corpo físico, bem como há interações entre matéria orgânica e o
ser, mesmo sendo de naturezas diferentes, portanto a interação entre seres
independe da materialidade, e assim, a mediunidade é algo natural.